A chegada de um ano novo, para a maioria das pessoas, é tempo
de reflexão sobre o ano que passou e época para fazer novos planos, estabelecer
metas, definir objetivos. O olhar para o
ano que findou traz, com frequência enorme, a constatação que a maioria das
decisões do ano anterior se perdeu no tempo transcorrido e que muitas delas
compõem o elenco dos novos propósitos.
Há algum tempo, Marcos Ferreira, meu amigo engenheiro,
intelectual, estudioso da verdadeira natureza da mente e mestre em meditação, me levantou a questão sobre o que
nos motiva a comprometer com um projeto ao comentar texto com o mesmo título
postado por Leo Babauta (*) em seu blog que recebe mensalmente mais de um
milhão de visitas (!).
Babauta que de 1973 até 2010 era fixado em metas e escrevia
focado em produtividade e organização, após adotar um estilo de vida
minimalista, passou a defender com vigor a tese do “no goals” (sem metas). A
ideia central que defende é que “a melhor meta é não ter meta” (the best goal
is no goal) e os argumentos são que livre das metas você se liberta para novas
experiências, amplia seus horizontes, elas (metas) são irrealistas porque somos
incapazes de prever o futuro, e por aí vai.
Pra lá de polêmico vai à contra mão de tudo que aprendemos,
compartilhamos e praticamos e que é o senso comum: as metas são fundamentais em
todos os aspectos de nossas vidas e não apenas nos negócios. Em março de 2012 postei aqui, pela primeira
vez, minha posição recorrente sobre metas e discordo totalmente da tese “no
goals” que ele defende.
Mas se discordo por que levantar esse assunto aqui no blog
que prega exatamente o contrário?
O fato é que Babauta, que tem outras ideias e colocações que
são realmente muito boas sobre desenvolvimento de consciência, de comportamento
e outros temas interessantes e, sobretudo, porque é um pensador seguido por
milhões de leitores, nesse mesmo texto que Marcos Ferreira comenta, faz
colocação lapidar sobre o que o motiva a se comprometer com algum objetivo (que
ele faz questão de esclarecer que independe de estar ou não associado a alguma
meta):
1. Compromisso. Se (ele) esta
comprometido a fazer algo para outra pessoa (tipo um sócio de negócio, um
companheiro de ginástica ou para os leitores de seu blog).
2. Um forte porque. Se ele realmente se
importa com um projeto é porque tem uma forte razão para isso, como ajudar
significativamente algumas pessoas ou beneficiar alguém com quem se importa ou,
ainda, impactar sua vida de forma marcante. Esse porque evita que desista do
projeto antes de concluí-lo.
Fantástico que esse formador de opinião, arauto do “no
goals”, tenha esse pensamento a ponto de compartilha-lo com seus milhões de
leitores.
Num
ambiente de negócios repleto de incertezas, mudanças econômicas e práticas
regulatórias, entre outras volatilidades, o uso intensivo de informações
passou a ser a regra e a capacidade de coletá-las, interpretá-las e decidir a
partir delas passou a ser crucial. Os trabalhadores do conhecimento de alto desempenho
têm capacidade de priorizar, de trabalhar em equipe, de influenciar e tomar
decisões. Possuem habilidade para resolução de problemas, agilidade de
aprendizado, pro atividade e conhecimentos técnicos.
Essas características dão a
essas pessoas de desempenho superior capacidade de se adaptarem rapidamente às
mudanças usando proativamente seus conhecimentos para identificarem prioridades
e agirem para levarem adiante seus projetos. Asseguram também condições de
trabalharem colaborando e influenciando outros membros da equipe espalhados
pela estrutura e até dispersos geograficamente de modo que a organização como
um todo seja mais eficaz.
Todos, gestores e
colaboradores, precisam adquirir visão mais ampla do negócio que transcenda aos
objetivos e metas individuais e alcance o desempenho da organização como
um todo, isso significa se superar cumprindo suas metas e contribuindo
significativamente para que outros cumpram as suas. A consequência é o
aumento de receitas e resultados, quando não a própria sobrevivência.
O discurso é bom, mas como
alcançar esse nível? Lógico que é difícil e aí até Leo Babauta, para quem,
repetimos, a melhor meta é não ter meta, reconhece a necessidade de compromisso
e de um porque para envolvimento em algum projeto.
Compromisso com cumprimento de metas e mudanças é uma
característica marcante dos trabalhadores do conhecimento de alto desempenho.
Pessoas que são os verdadeiros líderes e que compartilham esse compromisso
aparentemente inesgotável e bem visível com as mudanças e o fazem porque
acreditam piamente que o futuro da empresa depende delas. Entendem que sua
participação é essencial para o sucesso da organização e envolvem-se com
entusiasmo numa cruzada de satisfação pessoal.
É consenso que compromisso é o componente fundamental para
cumprimento de metas e, ainda, que ele se estabelece a partir de um porque.
Victor Frankl (**), neurologista e psicanalista austríaco,
fundador da logoterapia que é uma forma de análise existencial e é tratada como
a “Terceira Escola Vienense de Psicoterapia” (sendo a Freudiana a Primeira e a
Psicologia Individual de Adler a Segunda), e sobrevivente de campos de
concentração nazistas, inclusive dos centros de extermínio de Auschwitz e
Dachau, citava com frequência frase de Nietzsche: “Quem tem por que viver pode
suportar quase qualquer como”.
Frankl, em seu período de prisioneiro nesses campos de
concentração que se notabilizaram pelas barbáries que eram praticadas, cenários
drásticos de fome, humilhação, medo, sofrimento, tortura e morte, realizou
sessões terapêuticas nos seus companheiros de prisão com o propósito de
“despertar num paciente o sentimento de que é responsável por algo perante a
vida, por mais duras que sejam as circunstâncias, mesmo as mais miseráveis”.
Sobreviver, naquelas condições era encontrar um propósito na
vida, e ninguém era capaz de dizer qual era aquele propósito; cada um tinha de
descobrir o seu e aceitar a responsabilidade que sua resposta implicava. Quando
todos os objetivos comuns da vida estavam desfeitos só restava a “última
liberdade humana – a capacidade de escolher a atitude pessoal que se assume
diante de determinado conjunto de circunstâncias”. Os que lograram êxito nessa
busca pelo porque sobreviveram e continuaram a crescer a despeito de todas as
indignidades.
A verdade é que não existe o “no goals”. Os propósitos,
objetivos, metas sempre existirão em nossas vidas (podem ser relacionados ao
nível de conhecimento, felicidade, etc.) e nos nossos negócios (resultados,
geração de caixa, market share, etc.) sejam eles de que naturezas forem e para
serem alcançados, conquistados é necessário muito compromisso, e compromisso é
construído e consolidado pelo porque!
Esta é minha visão sobre o que nos
motiva a comprometer com um projeto.
Fontes: (*) Leo
Babauta - http://zenhabits.net/ What Really Motivates Us to Stick to a Project?
(**) Viktor Frankl – Em Busca de Um Sentido: Um Psicólogo no Campo
de Concentração. – Editora Vozes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário