quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O QUE NOS MOTIVA A COMPROMETER COM UM PROJETO?

A chegada de um ano novo, para a maioria das pessoas, é tempo de reflexão sobre o ano que passou e época para fazer novos planos, estabelecer metas, definir objetivos.  O olhar para o ano que findou traz, com frequência enorme, a constatação que a maioria das decisões do ano anterior se perdeu no tempo transcorrido e que muitas delas compõem o elenco dos novos propósitos.

Há algum tempo, Marcos Ferreira, meu amigo engenheiro, intelectual, estudioso da verdadeira natureza da mente e mestre em meditação, me levantou a questão sobre o que nos motiva a comprometer com um projeto ao comentar texto com o mesmo título postado por Leo Babauta (*) em seu blog que recebe mensalmente mais de um milhão de visitas (!).

Babauta que de 1973 até 2010 era fixado em metas e escrevia focado em produtividade e organização, após adotar um estilo de vida minimalista, passou a defender com vigor a tese do “no goals” (sem metas). A ideia central que defende é que “a melhor meta é não ter meta” (the best goal is no goal) e os argumentos são que livre das metas você se liberta para novas experiências, amplia seus horizontes, elas (metas) são irrealistas porque somos incapazes de prever o futuro, e por aí vai.

Pra lá de polêmico vai à contra mão de tudo que aprendemos, compartilhamos e praticamos e que é o senso comum: as metas são fundamentais em todos os aspectos de nossas vidas e não apenas nos negócios.  Em março de 2012 postei aqui, pela primeira vez, minha posição recorrente sobre metas e discordo totalmente da tese “no goals” que ele defende.

Mas se discordo por que levantar esse assunto aqui no blog que prega exatamente o contrário?

O fato é que Babauta, que tem outras ideias e colocações que são realmente muito boas sobre desenvolvimento de consciência, de comportamento e outros temas interessantes e, sobretudo, porque é um pensador seguido por milhões de leitores, nesse mesmo texto que Marcos Ferreira comenta, faz colocação lapidar sobre o que o motiva a se comprometer com algum objetivo (que ele faz questão de esclarecer que independe de estar ou não associado a alguma meta):

1.      Compromisso. Se (ele) esta comprometido a fazer algo para outra pessoa (tipo um sócio de negócio, um companheiro de ginástica ou para os leitores de seu blog).

2.      Um forte porque. Se ele realmente se importa com um projeto é porque tem uma forte razão para isso, como ajudar significativamente algumas pessoas ou beneficiar alguém com quem se importa ou, ainda, impactar sua vida de forma marcante. Esse porque evita que desista do projeto antes de concluí-lo.

Fantástico que esse formador de opinião, arauto do “no goals”, tenha esse pensamento a ponto de compartilha-lo com seus milhões de leitores.

Num ambiente de negócios repleto de incertezas, mudanças econômicas e práticas regulatórias, entre outras volatilidades, o uso intensivo de informações passou a ser a regra e a capacidade de coletá-las, interpretá-las e decidir a partir delas passou a ser crucial. Os trabalhadores do conhecimento de alto desempenho têm capacidade de priorizar, de trabalhar em equipe, de influenciar e tomar decisões. Possuem habilidade para resolução de problemas, agilidade de aprendizado, pro atividade e conhecimentos técnicos. 

Essas características dão a essas pessoas de desempenho superior capacidade de se adaptarem rapidamente às mudanças usando proativamente seus conhecimentos para identificarem prioridades e agirem para levarem adiante seus projetos. Asseguram também condições de trabalharem colaborando e influenciando outros membros da equipe espalhados pela estrutura e até dispersos geograficamente de modo que a organização como um todo seja mais eficaz.

Todos, gestores e colaboradores, precisam adquirir visão mais ampla do negócio que transcenda aos objetivos e metas individuais e alcance o desempenho da organização como um todo, isso significa se superar cumprindo suas metas e contribuindo significativamente para que outros cumpram as suas. A consequência é o aumento de receitas e resultados, quando não a própria sobrevivência.

O discurso é bom, mas como alcançar esse nível? Lógico que é difícil e aí até Leo Babauta, para quem, repetimos, a melhor meta é não ter meta, reconhece a necessidade de compromisso e de um porque para envolvimento em algum projeto.

Compromisso com cumprimento de metas e mudanças é uma característica marcante dos trabalhadores do conhecimento de alto desempenho. Pessoas que são os verdadeiros líderes e que compartilham esse compromisso aparentemente inesgotável e bem visível com as mudanças e o fazem porque acreditam piamente que o futuro da empresa depende delas. Entendem que sua participação é essencial para o sucesso da organização e envolvem-se com entusiasmo numa cruzada de satisfação pessoal.

É consenso que compromisso é o componente fundamental para cumprimento de metas e, ainda, que ele se estabelece a partir de um porque.

Victor Frankl (**), neurologista e psicanalista austríaco, fundador da logoterapia que é uma forma de análise existencial e é tratada como a “Terceira Escola Vienense de Psicoterapia” (sendo a Freudiana a Primeira e a Psicologia Individual de Adler a Segunda), e sobrevivente de campos de concentração nazistas, inclusive dos centros de extermínio de Auschwitz e Dachau, citava com frequência frase de Nietzsche: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”.

Frankl, em seu período de prisioneiro nesses campos de concentração que se notabilizaram pelas barbáries que eram praticadas, cenários drásticos de fome, humilhação, medo, sofrimento, tortura e morte, realizou sessões terapêuticas nos seus companheiros de prisão com o propósito de “despertar num paciente o sentimento de que é responsável por algo perante a vida, por mais duras que sejam as circunstâncias, mesmo as mais miseráveis”.

Sobreviver, naquelas condições era encontrar um propósito na vida, e ninguém era capaz de dizer qual era aquele propósito; cada um tinha de descobrir o seu e aceitar a responsabilidade que sua resposta implicava. Quando todos os objetivos comuns da vida estavam desfeitos só restava a “última liberdade humana – a capacidade de escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias”. Os que lograram êxito nessa busca pelo porque sobreviveram e continuaram a crescer a despeito de todas as indignidades.

A verdade é que não existe o “no goals”. Os propósitos, objetivos, metas sempre existirão em nossas vidas (podem ser relacionados ao nível de conhecimento, felicidade, etc.) e nos nossos negócios (resultados, geração de caixa, market share, etc.) sejam eles de que naturezas forem e para serem alcançados, conquistados é necessário muito compromisso, e compromisso é construído e consolidado pelo porque!

Esta é minha visão sobre o que nos motiva a comprometer com um projeto.
Fontes: (*) Leo Babauta - http://zenhabits.net/ What Really Motivates Us to Stick to a Project?
            (**) Viktor Frankl – Em Busca de Um Sentido: Um Psicólogo no Campo de Concentração. – Editora Vozes.

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