Milionário no sentido que ela definiu era o indivíduo que possuía ativos totais acima de 1 milhão de Reais, aí incluídos casa, carro e disponibilidades financeiras. Na verdade o conceito de milionário nos termos que o mercado financeiro vê é aquela pessoa que possui ativos líquidos para investir acima daquela quantia. O boom do mercado de imóveis com significativa valorização certamente contribuiu para esse número apontado pela revista.
Independente do critério usado pela Forbes para caracterizar o milionário brasileiro, a verdade é que muitas pessoas conseguiram acumular seu milhão nesse período e isso é um fato importante a ser comemorado.
A manutenção dessa taxa permite
inferir que mais de 20 mil brasileiros ascenderão a essa categoria nesse
período e isso é muito bom e pode servir de incentivo a muita gente para tentar
integrar, legitimamente, esse contingente.
A economia ainda que não tão
aquecida como no passado recente oferece oportunidades a pessoas de iniciativa
e coragem para criarem e tocarem seus negócios próprios se habilitando a
atingir esse patamar. O agronegócio, a proliferação das franquias de redes
nacionais e internacionais, a multiplicação dos serviços, a interiorização do
desenvolvimento, o crescimento do mercado interno, tudo contribui para formação
do cenário propício para a multiplicação dessa categoria de cidadãos.
A revista Exame de 21 de março
passado, em sua matéria de capa, trata da expansão do empreendedorismo no
Brasil e seu reflexo na economia nacional destacando que o empreendedor
brasileiro esta mais educado, experiente e mais bem sucedido e aponta o fato
surpreendente de ser o país o terceiro maior criador de empresas do mundo
ficando atrás apenas dos Estados Unidos e Reino Unido.
Num cenário como esse é natural
que se multipliquem trabalhos e estudos sobre empreendedorismo e que abordam os
diversos aspectos envolvidos nessa atividade apontando os fundamentos do
sucesso de várias iniciativas e indicando caminhos para alcançar resultados
semelhantes.Pode-se dizer que quase tudo que dá certo nesses projetos já foi examinado e discutido à quase exaustão.
O sucesso dessas iniciativas, sua origem e formação têm sido os temas recorrentes dessas obras, mas nesse universo literário um livro específico chama a atenção por sua abordagem totalmente inusitada.
Refiro-me a “O Livro Negro do
Empreendedor” do escritor e economista espanhol Fernando Trias de Bes que nessa
obra contundente analisa a realidade empresarial sob perspectiva inédita e
esclarecedora. Ao contrário de contar fatores de sucesso e roteiros para
alcançá-lo aponta os riscos de fracasso, tema evitado por manuais e livros de
negócios. E o faz numa abordagem realista que serve de alerta a todos aqueles
que pretendem se aventurar em projetos próprios. Como o autor explica, só conhecendo
as causas do fracasso é possível evitá-lo.
Desenvolvido em quatro partes o
livro apresenta em sua primeira etapa as razões que levam alguém a empreender
fazendo distinção entre o motivo, que entende irrelevante, e a motivação que
reputa fundamental. Destaca o fato de a incerteza estar intimamente ligada ao
ato de empreender e que os resultados obtidos nunca coincidem, para o bem ou
para o mal, com as expectativas. Para viver nesse cenário, repleto de
imprevistos e erros, onde pode ser necessário alterar radicalmente os rumos do
negócio, é necessário ser um lutador que nunca desiste e estar sempre disposto
a enfrentar desafios intelectuais e até familiares que vão se multiplicar ao
longo do caminho.Na segunda fase trata de assunto muito delicado: o ter ou não sócios. Aponta o medo como a necessidade primeira de se associar ou, então, a necessidade de conseguir recursos não disponíveis de outra forma. No curto prazo essa forma parece grátis, mas no longo prazo esses recursos podem ser os mais caros. Ressalta ainda a importância dos critérios para a escolha dos sócios dando destaque aos aspectos honestidade e valores compartilhados e, em outro plano, à complementaridade de caráter e competências.
Ainda nessa etapa aborda assunto que pessoalmente entendo ser vital: é fundamental logo na origem estabelecer regras claras de saída da sociedade na hora que isso for necessário por qualquer que seja a razão. A estrutura jurídica das sociedades limitadas é muito arcaica e embora tenha tido alguns avanços no novo código civil esta longe de atender às necessidades da dinâmica empresarial.
Nos Estados Unidos, tive oportunidade de participar de dois processos de saídas de sócios, até em estrutura 50/50, envolvendo interesses de vários milhões de dólares que só foram possíveis, sem sacrifício dos projetos, pela existência de cláusulas de “buy/sell” claras, equânimes, estabelecidas na origem da formação societária.
Pode parecer estranho e difícil para alguns tratar dessas situações na hora do “casamento”, mas é bom levar esse assunto para a mesa de negociação com a seriedade que ele é revestido.
Na terceira fase trata da escolha do setor em que empreender e aí não apresenta muitas novidades. Vai na forma clássica de unir uma ideia vencedora num modelo de negócio que lhe dê viabilidade. Concentrar-se não no que vai vender, mas sim no porque os clientes comprarão de você. Investir em area que conheça ou que possa cercar-se de quem conheça. Avaliar o crescimento do setor, sua rentabilidade, grau de concorrência, nível de investimento requerido, momento econômico, etc.
Na quarta etapa aborda tema muito importante para o empreendedor com conselhos antológicos: a importância de diversificar ao máximo a renda familiar nos primeiros anos, incorporar as receitas pessoais ao seu plano de negócio, não viver como empresário rico na primeira oportunidade, apoio familiar incondicional e absoluto. Recomenda estar preparado para trabalhar em regime de full time, full mind e full soul 24 horas, 7 dias por semana, 52 semanas por ano.
Alerta para a diferença entre empreendedor e empresário esclarecendo que o primeiro é aquele que tem prazer em criar e o segundo o que sabe gerir e implementar o crescimento e tem prazer nisso. Sugere que o empreendedor não se envolva emocionalmente com sua criação a ponto de não querer deixar o comando dela na hora que isso for necessário. Pode ser difícil, mas costuma ser imprescindível.
Para terminar essa postagem, maior que o normal pela importância do tema, sugiro meditar sobre a ideia de que a função básica de qualquer negócio é adicionar valor para seus sócios. Qualquer que seja sua natureza tem de operar com lucro gerando resultados que lhe permitam crescer e garantam estabilidade. Se não consegue isso deve ser descartado.
E por derradeiro, considere seriamente o momento histórico que estamos passando: pode ser a sua oportunidade!
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Fonte : O Livro Negro do
Empreendedor – Fernando Trias de Bes