“A maioria dos homens pode suportar a adversidade, porém muito poucos
podem suportar o sucesso”. Walter Sachs, Goldman Sachs – maio 1930.
Valor Econômico, em sua edição de
18 de outubro publicou matéria - com o título “O “efeito vencedor” e o
perigo de perder tudo depois de ganhar muito” - veiculando tradução de artigo de Kate Kelland, distribuído
pela Reuters de Londres, onde ela comenta trabalho de John Coates que após
período como bem sucedido corretor de valores do Deutsche Bank e Goldman Sachs
decidiu investigar a euforia que ele experimentou durante o processo de grande
sucesso.
Assim, depois de 13 anos de
trabalho no pregão da bolsa em Wall Street, o operador milionário tornou-se
neurocientista nas Universidades Rockfeller, NY, e Cambridge, Reino Unido,
dedicando-se ao estudo do que acontecia em seu cérebro quando estava mergulhado
naquele estado de êxtase.
Após anos de pesquisas e
experiências concluiu que a disposição para assumir riscos é motivada por um
“efeito vencedor” – mecanismo hormonal em que cada vitória leva a tomada de
mais riscos.
O aprofundamento desses estudos
somado a trabalhos de psiquiatras e outros neurocientistas indicam que as
consequências do “efeito vencedor” que fogem do controle podem levar algumas
pessoas a se tornarem políticos corruptos, ditadores cruéis e até mesmo
cirurgiões que pensam ser Deus nos hospitais.
O avanço dos estudos mostrou que
o efeito ia bem além da biologia da tomada de riscos no mercado financeiro e se
estendia a todos os tipos de riscos alcançando políticos que com a maior
desfaçatez se envolvem em grandes falcatruas, soldados que se transformam em
máquinas de matar, operadores que quebram bancos inteiros.
Quando essa transformação ocorre
nas pessoas, elas começam a se portar como senhores do universo e não se trata
de processo cognitivo e nem mesmo de ganância. É sensação de consumar o poder e
de estar dominando o mundo. O que dá errado nesse processo é que o mecanismo
que esta por trás do “efeito vencedor” sai de controle e torna-se patológico
alimentando a “exuberância irracional” e a tomada de riscos excessivos.
No plano mais comum onde pessoas,
em diversos campos de atividade, fracassam depois de alcançar muito sucesso
esse “efeito vencedor” se manifesta pela sensação de poder que as levam a
ignorar todos os sinais de alerta que surgem o tempo todo na crença que são
semideuses e têm o domínio de tudo e de todos.
Robert E. Rubin, CEO de Goldman
Sachs e depois Secretário do Tesouro Americano na administração Clinton, em
1992 ao responder sobre o que leva uma empresa e tropeçar disse: “Autoconfiança
exacerbada, prepotência crescente, arrogância, ego inflado, soberba – ao permitir
que elas se desenvolvam você descarrila”.
Essa situação é muito mais comum
do que se pode imaginar e podem ocorrer em organizações tão diversas quanto
grandes operadores financeiros globais até instituições religiosas. Nada e
ninguém estão livres disso.
É um processo onde o mal bloqueia
o entendimento e riscos crescentes são assumidos até a situação sair do
controle. É a síndrome do “sabe tudo”. A consequência pode ser perder tudo o que se
conquistou e amargar, por longo período,quando e se consegue recuperar,
resultados que podem ser muito penosos em todas as áreas pessoais e mesmo
alcançar fortemente a terceiros.
Eu vivi essa situação e, hoje,
revendo todo o quadro com a perspectiva de tempo maior, nada tenho a
acrescentar ao que foi colocado até aqui, senão concordar em gênero, número e
grau.
O problema é, durante a fase do
sucesso, com prosperidade crescente evitar que ela suba à cabeça fazendo-o acreditar
que é bem sucedido porque é particularmente esperto e sendo assim poder fazer
qualquer coisa.
Como desenvolver a dose certa de
humildade e estabelecer limites éticos e morais a esse “efeito vencedor” de origem
hormonal? Será possível? Pode saber que, se for possível, é muito difícil
mesmo...
John Coates, no âmbito da área
que atuou, grandes operadores financeiros, sugere que os sistemas de
monitoramento desses agentes sejam aperfeiçoados e que ao contrário de aumentar
os limites de risco de operadores que acumulam vitórias deveriam limitá-los ou
mesmo orientá-los a liquidar suas posições. Será factível? Seria compatível com
os interesses do grupo? Se esta ganhando por que inibir e limitar?
No plano individual, uma boa dose
de humildade pode auxiliar. Vicente Falconi, cofundador e presidente do INDG e
Fundação Dom Cabral, respeitado guru e mentor de muitas personalidades, na
seção que assina na revista Exame de 25 de julho, ao responder a consulta de
leitor, recomenda que as pessoas tenham vários mentores.
Relata que ele mesmo sempre teve
mentores, citando personalidades notáveis, e que adquiriu muito conhecimento
com eles. Sugere a seu leitor que sua atitude e valores verdadeiros o levarão a
encontrar seus futuros mentores e que o exercício da humildade facilitará seu
caminho.
Cito essa matéria porque acredito
que mentores experientes em áreas diversas de conhecimento, não só acadêmico,
podem constituir auxílio excepcional como veículos para a emissão de sinais que
ativem esses limites éticos e morais além de todos os benefícios que podem
trazer.
A ambição por si só não é errada
nem é pecado. O homem saiu das cavernas e conquistou o espaço movido por
necessidade e ambição. Ela é um dos motores do crescimento. O problema é o
descontrole e a exacerbação.
No auge da fase do sucesso e da
prosperidade, onde tudo da certo, como se limitar? Onde procurar essa
inspiração?
Não pretendo propor soluções ou
indicar parâmetros de ações ou condutas, até porque não tenho como fazê-lo, mas
acredito que o crescimento espiritual e o autoconhecimento podem ajudar a lidar
com essas situações.
O Pastor Pedro Parente,
comentando Tiago 1.5 “...e se algum de
vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente.. “
destaca que a “sabedoria” a que o texto se refere não é somente o conhecimento,
mas também à habilidade de tomar decisões sábias em circunstâncias difíceis.
Sempre que precisamos de sabedoria, podemos orar a Deus e Ele, generosamente
proverá aquilo que precisamos dirigindo nossas escolhas.
O caminho até o entendimento e a
prática dessa ideia é bem longo, mas podem evitar grandes sofrimentos...
Vale a
pena meditar sobre isso.
Fontes: Kate Kelland, Via Reuters
Valor Econômico Ed. 18 Out 2012. - Liza Endlich em Goldman Sachs A cultura do
Sucesso 1999. – Afonso Murad em Gestão e Espiritualidade, Uma Porta
Entreaberta. – Vicente Falconi na Revista Exame de 25 de julho 2012. - Pr. Pedro
Parente em www.evangelica.com.br