segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O “EFEITO VENCEDOR” E A QUEDA SUBSEQUENTE



“A maioria dos homens pode suportar a adversidade, porém muito poucos podem suportar o sucesso”. Walter Sachs, Goldman Sachs – maio 1930.

Valor Econômico, em sua edição de 18 de outubro publicou matéria - com o título O “efeito vencedor” e o perigo de perder tudo depois de ganhar muito - veiculando tradução de artigo de Kate Kelland, distribuído pela Reuters de Londres, onde ela comenta trabalho de John Coates que após período como bem sucedido corretor de valores do Deutsche Bank e Goldman Sachs decidiu investigar a euforia que ele experimentou durante o processo de grande sucesso.
Assim, depois de 13 anos de trabalho no pregão da bolsa em Wall Street, o operador milionário tornou-se neurocientista nas Universidades Rockfeller, NY, e Cambridge, Reino Unido, dedicando-se ao estudo do que acontecia em seu cérebro quando estava mergulhado naquele estado de êxtase.
Após anos de pesquisas e experiências concluiu que a disposição para assumir riscos é motivada por um “efeito vencedor” – mecanismo hormonal em que cada vitória leva a tomada de mais riscos.
O aprofundamento desses estudos somado a trabalhos de psiquiatras e outros neurocientistas indicam que as consequências do “efeito vencedor” que fogem do controle podem levar algumas pessoas a se tornarem políticos corruptos, ditadores cruéis e até mesmo cirurgiões que pensam ser Deus nos hospitais.
O avanço dos estudos mostrou que o efeito ia bem além da biologia da tomada de riscos no mercado financeiro e se estendia a todos os tipos de riscos alcançando políticos que com a maior desfaçatez se envolvem em grandes falcatruas, soldados que se transformam em máquinas de matar, operadores que quebram bancos inteiros.
Quando essa transformação ocorre nas pessoas, elas começam a se portar como senhores do universo e não se trata de processo cognitivo e nem mesmo de ganância. É sensação de consumar o poder e de estar dominando o mundo. O que dá errado nesse processo é que o mecanismo que esta por trás do “efeito vencedor” sai de controle e torna-se patológico alimentando a “exuberância irracional” e a tomada de riscos excessivos.
No plano mais comum onde pessoas, em diversos campos de atividade, fracassam depois de alcançar muito sucesso esse “efeito vencedor” se manifesta pela sensação de poder que as levam a ignorar todos os sinais de alerta que surgem o tempo todo na crença que são semideuses e têm o domínio de tudo e de todos.
Robert E. Rubin, CEO de Goldman Sachs e depois Secretário do Tesouro Americano na administração Clinton, em 1992 ao responder sobre o que leva uma empresa e tropeçar disse: “Autoconfiança exacerbada, prepotência crescente, arrogância, ego inflado, soberba – ao permitir que elas se desenvolvam você descarrila”.
Essa situação é muito mais comum do que se pode imaginar e podem ocorrer em organizações tão diversas quanto grandes operadores financeiros globais até instituições religiosas. Nada e ninguém estão livres disso.
É um processo onde o mal bloqueia o entendimento e riscos crescentes são assumidos até a situação sair do controle.  É a síndrome do “sabe tudo”.  A consequência pode ser perder tudo o que se conquistou e amargar, por longo período,quando e se consegue recuperar, resultados que podem ser muito penosos em todas as áreas pessoais e mesmo alcançar fortemente a terceiros.
Eu vivi essa situação e, hoje, revendo todo o quadro com a perspectiva de tempo maior, nada tenho a acrescentar ao que foi colocado até aqui, senão concordar em gênero, número e grau.
O problema é, durante a fase do sucesso, com prosperidade crescente evitar que ela suba à cabeça fazendo-o acreditar que é bem sucedido porque é particularmente esperto e sendo assim poder fazer qualquer coisa.
Como desenvolver a dose certa de humildade e estabelecer limites éticos e morais a esse “efeito vencedor” de origem hormonal? Será possível? Pode saber que, se for possível, é muito difícil mesmo...
John Coates, no âmbito da área que atuou, grandes operadores financeiros, sugere que os sistemas de monitoramento desses agentes sejam aperfeiçoados e que ao contrário de aumentar os limites de risco de operadores que acumulam vitórias deveriam limitá-los ou mesmo orientá-los a liquidar suas posições. Será factível? Seria compatível com os interesses do grupo? Se esta ganhando por que inibir e limitar?
No plano individual, uma boa dose de humildade pode auxiliar. Vicente Falconi, cofundador e presidente do INDG e Fundação Dom Cabral, respeitado guru e mentor de muitas personalidades, na seção que assina na revista Exame de 25 de julho, ao responder a consulta de leitor, recomenda que as pessoas tenham vários mentores.
Relata que ele mesmo sempre teve mentores, citando personalidades notáveis, e que adquiriu muito conhecimento com eles. Sugere a seu leitor que sua atitude e valores verdadeiros o levarão a encontrar seus futuros mentores e que o exercício da humildade facilitará seu caminho.
Cito essa matéria porque acredito que mentores experientes em áreas diversas de conhecimento, não só acadêmico, podem constituir auxílio excepcional como veículos para a emissão de sinais que ativem esses limites éticos e morais além de todos os benefícios que podem trazer.
A ambição por si só não é errada nem é pecado. O homem saiu das cavernas e conquistou o espaço movido por necessidade e ambição. Ela é um dos motores do crescimento. O problema é o descontrole e a exacerbação.
No auge da fase do sucesso e da prosperidade, onde tudo da certo, como se limitar? Onde procurar essa inspiração?
Não pretendo propor soluções ou indicar parâmetros de ações ou condutas, até porque não tenho como fazê-lo, mas acredito que o crescimento espiritual e o autoconhecimento podem ajudar a lidar com essas situações.
O Pastor Pedro Parente, comentando Tiago 1.5 “...e se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente.. “ destaca que a “sabedoria” a que o texto se refere não é somente o conhecimento, mas também à habilidade de tomar decisões sábias em circunstâncias difíceis. Sempre que precisamos de sabedoria, podemos orar a Deus e Ele, generosamente proverá aquilo que precisamos dirigindo nossas escolhas.
O caminho até o entendimento e a prática dessa ideia é bem longo, mas podem evitar grandes sofrimentos...
Vale a pena meditar sobre isso.
Fontes: Kate Kelland, Via Reuters Valor Econômico Ed. 18 Out 2012. - Liza Endlich em Goldman Sachs A cultura do Sucesso 1999. – Afonso Murad em Gestão e Espiritualidade, Uma Porta Entreaberta. – Vicente Falconi na Revista Exame de 25 de julho 2012. - Pr. Pedro Parente em www.evangelica.com.br

 

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